O escritório Zaha Hadid Architects revelou sua proposta para o Sleuk Rith Institute em Phnom Penh. O projeto bastante antecipado, comissionado pelo Centro de Documentação do Camboja, servirá de arquivo para o centro Khmer Rouge de história e estudos do genocídio na Ásia.
O instituto é composto por cinco torres de madeira inspiradas na antiga arquitetura Angkoriana que abrigarão um centro de pesquisas de genocídio, uma escola de graduação, um museu, um arquivo e uma biblioteca. À medida que as torres se elevam, as estruturas se entrelaçam e conectam diferentes departamentos acima do térreo, unindo as instituições como um todo.
Faça um passeio virtual pelo instituto, a seguir.
Dos arquitetos: Uma idealização de Youk Chhang, um incansável ativista dos direitos humanos e pesquisador das atrocidades de Khmer Rouge, o Instituto Sleuk Rith reúne os mais de um milhão de arquivos do Centro de Documentação do Camboja e a maior coleção de material relacionado ao genocídio da Ásia. A instituição se tornará um centro global para educação e pesquisa na documentação, causas e prevenção de genocídio.
Apesar da trágica história explorada pelo Instituto, a pesquisa de Youk Chhang levou à criação de um edifício que promovesse reflexão e reconciliação, e que fosse também inspirador e inovador. "Estávamos interessados em criar uma instituição voltada para o futuro que se desvia da atmosfera de angústia, da dureza quase industrial da maioria dos modelos de Memoriais de Genocídio existentes. Não se pretende criticar ou denegrir tais modelos, mas, em vez disso, enfatizar que, à luz das ricas tradições culturais e religiosas do Camboja, temos de avançar em uma direção diferente, orientada para um caminho positivo", afirmou Chhang.
"Os melhores memoriais não são objetos que a gente visita uma vez, contempla e vai embora. Os melhores memoriais evocam a reflexão e a celebração, mas são também espaços públicos dinâmicos e vivos que se relacionam com todas as gerações da comunidade. ” continua Chhang.
O projeto do Instituto é organizado em cinco estruturas de madeira que são volumes separados no nível térreo, mas que se inter-relacionam e se mesclam à medida que se elevam, conectando os diferentes departamentos, visitantes, estudantes e funcionários dentro de um todo singular. Numa projeção geral de 80m x 30m na base e 88m x 38m na cobertura, as estruturas variam entre três a oito pavimentos.
Cada um dos cinco edifícios abrigará uma função diferente: o Instituto Sleuk Rith; uma biblioteca que conta com a maior coleção de materiais relacionados à genocídio no Sudeste da Ásia; uma escola de graduação com foco em estudos de genocídio, conflitos e direitos humanos; um centro de pesquisa e arquivo; um centro de mídia e um auditório que podem ser utilizados tanto pelo Instituto como por toda a comunidade.
A arquitetura do antigo templo Angkor Wat, e muitos outros marcos da arquitetura de locais Angkorianos do Camboja, são construídos de maneira complexa combinando e interagindo com uma multitude de formas geométricas numa progressão de ambientes conectados. Conforme ganham altura e se aglutinam, os cinco edifícios do Instituto Sleuk Rith definem uma composição espacial complexa de volumes que se conectam, gerando uma série de espaços externos e internos que "fluem" para guiar os visitantes através das diferentes áreas de contemplação, educação, engajamento e discussão.
O projeto conecta o museu, a biblioteca, a escola e o instituto em diferentes níveis, permitindo usuários diferentes interagir e colaborar, melhorando sua compreensão e experiência. Ainda sim, cada uma das funções do Instituto é capaz de operar de maneira independente quando necessário.
Construído de madeira de fontes renováveis, a estrutura principal, o elemento de sombreamento externo e as divisórias internas proporcionam uma escala natural, aconchego e materialidade. As formas mais complexas foram projetadas e construídas para serem montadas a partir de seções de madeira retas com apenas uma curva, com tecnologias já estabelecidas.
O terreno está localizado nas adjacências do Colégio Boeung Trabek em Phnom Penh, ao sul do centro da cidade. Os edifícios existentes do colégio, agora abandonados desde que a instituição se mudou para um novo endereço, foram utilizados em campos de re-educação durante o regime Khmer Rouge - assim como muitas outras escola do Camboja - tornando este um local ideal para a localização do Instituto: construindo sobre o passado para educar o futuro.
Para se ajustar ao clima tropical do Camboja, os pavimentos mais baixos e estreitos dos edifícios são sombreados pela própria forma do edifício, enquanto as grelhas de sombreamento nos pavimentos superiores evitam a entrada direta da forte luz solar. Localizado na confluência dos rios Mekong e Tonlé Sap, os edifícios serão construídos em plataformas elevadas para prevenir danos causados pelas eventuais enchentes dos rios.
Os visitantes chegam ao edifício através de passarelas sobre espelhos d'água que refletem as formas do edifício e trazem a luz para os espaços internos. Assim como os espelhos d'água dos antigos templos do Camboja, estes - e aqueles que estão nos pátios e terraços em pavimentos mais elevados - serão abastecidos com água da chuva e são parte integrante dos processos de gestão da água do Instituto, que minimizam o impacto nos sistemas de drenagem local e no meio ambiente.
Ao entrar no edifício através do átrio, os visitantes são recebidos pelas exposições da coleção do Instituto. Dalí são direcionados ao museu ou em direção à escola e ao auditório. Este último se localiza no térreo ao passo que as salas de aula e de professores estão organizados em torno de um pátio externo logo acima e continuam nos pavimentos superiores.
Acima do átrio o Instituto abriga os arquivos do Centro de Documentação, com escritórios para os pesquisadores e administração nos pavimentos superiores. Uma passarela suspensa sobre o átrio conectam a escola e a biblioteca.
O projeto passivo do edifício - que inclui medidas de redução de consumo de água e energia e a instalação de fontes de energias renováveis - aumentará seu desempenho ecológico. A forma dos edifícios minimizam o ganho solar e o sistema de sombreamento externo difere em cada fachada, reduzindo os ganhos solares enquanto mantém níveis suficientes de luz natural.
A cobertura horizontal do edifício é oculta da perspectiva do observador para abrigar as fontes renováveis de energia que são extremamente eficientes no clima de Phnom Penh: painéis fotovoltaicos e painéis solares para aquecimento da água. Mecanismos de troca de calor também serão localizados na cobertura, reservando a área dentro do edifício para programas educacionais, culturais e comunitários do Instituto.
Dentre as instalações do Instituto está um parque memorial de 68 mil metros quadrados para toda a comunidade, com quadras esportivas, jardins com vegetação urbana e pomares, além dos tradicionais prados e um bosque que abrigará esculturas contemporâneas do Camboja, muitas delas homenageando as mulheres que ajudaram a reconstruir o país.
O complexo do Instituto Sleuk Rith foi aprovado pelas autoridades responsáveis e sua construção tem início previsto para o ano que vem.
Arquitetos
Localização
Phnom Penh, CambojaDesign
Zaha Hadid, Patrik SchumacherZHA Diretor de Design
DaeWha KangZHA Líder do Projeto
Brian DaleZHA Equipe do Projeto
Malgorzata Kowalczyk, Michal Wojtkiewicz, Torsten Broeder, Fernanda MugnainiCliente
Sleuk Rith InstituteDiretor do Cliente
Youk ChhangEstrutura / Instalações / Fachada / Iluminação / Acústica
ArupGestão de Projetos
Ben LewisDiretor Instalações
Emmanuelle DanisiFachadas
Jonathan WilsonLuminotécnico
Giulio AntonuttoAcústica
Philip WrightEquipe de Consultoria
Chris Carroll (Diretor de Projetos); Vincenzo Reale, Jason Simpson, Edward Clarke Anne Gilpin, Toby Clark, Sara Clark, Michael YoungPaisagistas
AECOM - Phil Black (Diretor de Projetos), Mun Pheng Mak (Project Manager), Sarmistha Mandal (Associate); Hwei Hwei Chan, Akarapol Chongwattanaroj, Eunice Chia, Chung Ho Kim (Equipe de Projeto)Renders
MIRIlustrações
Jan-Erik SlettenFilme
Viktor FretyánFotografias
ZHA